18 junho, 2009

Redução de estômago para diabéticos

Os diabéticos obesos já não precisam mais travar uma luta contra o índice de massa corpórea (IMC) para conseguir se submeter a uma cirurgia de redução de estômago onde o objetivo maior não é perder peso, mas manter a glicemia sob controle.

Luziara, fez a cirurgia em janeiro último, perdeu 17 quilos e deixou de tomar remédios para controlar a doença. Foto: Helder Tavares/DP/D.A Press

O procedimento, que antes só podia ser realizado em pessoas com obesidade moderada a severa, começa a ser disponibilizado aos obesos "leves" em Pernambuco. No Hospital das Clínicas, já se opera diabéticos com IMC entre 30 e 34,9. Antes o mínimo era 35.
27 pessoas já se submeteram ao procedimento e 74% delas nem precisam mais de medicação para controlar a doença, enquanto 19% obtiveram melhoras e puderam reduzir o uso de remédios.
As primeiras cirurgias fizeram parte de uma pesquisa de mestrado. Há três meses, foram interrompidas para publicação dos resultados do estudo. Mas a expectativa é de que a partir do segundo semestre deste ano, a redução de estômago em obesos leves passe a ser oferecida rotineiramento no hospital. Os interessados já podem se inscrever. A preparação é de cerca de três a quatro meses.


"Um percentual pequeno consegue a longo prazo manter o controle da doença"
Álvaro Ferraz - médico

A cirurgia é indicada para pacientes com diabetes tipo 2 (o mais comum), que não conseguem manter a glicemia sob controle apenas com dieta, medicação e insulina. Com a adaptação na indicação do procedimento para diabéticos, uma pessoa de 1,70 m e 86,7 Kg, por exemplo, pode ser operada. Pelo critério anterior (de IMC a partir de 35), ela precisaria ter 101,1 Kg.
A possibilidade de operar o obeso leve diabético significa um avanço na luta contra uma doença que provoca problemas sérios, como impotência, amputações, cegueira, infarto e acidentes vasculares. E pior, que não é fácil de ser controlada apenas com dietas e medicações. "Um percentual pequeno consegue a longo prazo manter o controle clínico adequado do diabetes. Na hora que surge a perspectiva de ter um controle duradouro e mais fácil (por meio da cirurgia), é um grande alento", afirmou o professor de cirurgia da Universidade Federal de Pernambuco e orientador do estudo feito com 27 pacientes, Álvaro Ferraz. O Hospital das Clínicas é um dos pioneiros no Brasil na realização de gastroplastias e uma das instituições públicas que mais realizam esse tipo de procedimento no país.


A cirurgia é parecida com a realizada em obesos mórbidos. Além da redução no estômago do paciente, é feito um desvio para que o alimento não passe pelo duodeno e vá direto para uma área do intestino delgado chamada de jejuno. Os médicos acreditam que quando o alimento desvia do duodeno, é liberado um hormônio que melhora a função da insulina. Sem contar que quando a comida chega diretamente ao jejuno, ocorre a inibição de uma outra substância, um hormônio que compete com a insulina. Somando esses dois benefícios, o pâncreas (glândula que produz a insulina) passa a funcionar de maneira mais eficaz.

No caso dos obesos leves, no entanto, não é colocado o anel gástrico, que restringe a capacidade do paciente se alimentar. "Como não queremos uma perda de peso muito grande, não colocamos o anel", disse Álvaro Ferraz. A cirurgia existe há mais de 40 anos e é considerada segura, segundo o cirurgião. O procedimento é chamado de gastroplastia com reconstituição em Y de Roux ou Bypass gástrico. Os obesos leves operados no HC foram submetidos à cirurgia entre 2002 e 2008, especialmente nos dois últimos anos. O estudo tem autorização de três comitês de ética, entre eles o da UFPE.

Luziara Carneiro de Souza, de 39 anos, foi uma das pacientes operadas durante a pesquisa. Ela fazia regime, tomava comprimidos e insulina, mas não conseguia manter a glicemia sob controle. Com 1,60 m, 89 Kg e IMC aproximado de 34, ela foi submetida à operação no dia 23 de janeiro deste ano. Duas semanas depois, ela já não precisava tomar remédios. Quase cinco meses depois, está 17 quilos mais magra. "A cirurgia foi tranquila e o pós-operatório foi ótimo", disse. Casos de diabetes não faltam na família de Luziara. Uma de suas tias chegou a ter as duas pernas amputadas e faleceu. Os pesquisadores ainda comemoram os resultados obtidos no estudo, mas já pensam em dar um salto maior: operar diabéticos não-gordos, independentemente do peso. Mas ainda precisam de autorização de comitês de ética.
Fonte: DiariodePE

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